No
início da conferência, cedeu-se um minuto consagrado a conversa sobre a
viagem de cada um dos representantes e comentários sobre o acolhimento
desde o aeroporto até aos vigésimos andares dos prédios onde estavam
alojados. Lá mesmo onde tiveram que trepar pelas escadas pois os
elevadores já não existiam. Já tinham sido exportados para em seguida
serem reimportados, já não como elevadores para os prédios mas como
elevadores que circulam na fina rede rodoviária do país.
Cada
cidadão estrangeiro que tinha entrado no país e naquela cidade não
desperdiçou o primeiro minuto para retratar com maior entusiasmo as
maravilhas que tinha visto. Tinham apreciado tudo o que se encontrava
na rua com tanta cobiça.
– Esse país é muito rico hein… – Dizia um deles abanando a cabeça de frente para atrás batendo no seu peito com o queixo.
– Eles têm aqui muita coisa que não existe no nosso país… – dizia o outro e os outros iam seguindo.
– É mesmo, quando eu voltar para o meu país, vou dar o relatório ao meu chefe para ver se importo toda essa riqueza.
–
Mas como conseguem eles produzir aquilo que vimos? Questionava o outro
segurando o queixo com o indicador e o polegar da mão direita.
–
Tu não sabes? Eles têm em todas as casas indústrias que usam
tecnologias de ponta e de fácil maneio. Até as crianças manejam-nas e
produzem esse lixo luxuoso com facilidade.
– Não era uma garrafa de gás, era um barril de cerveja vazio. Havia uma festa no terraço daquele prédio. Aqui é assim.
– E aquilo que voava seriam pássaros saindo pela varanda do décimo segundo andar por causa do fumo?
–
Não. Eram plásticos pretos que constituem embalagens quando se fazem
compras nos mercados e o fumo era produzido pela senhora que veio ontem
do distrito com muita lenha para a cozinha.
– Então, tu já percebes um pouco do funcionamento deste país? Perguntou o outro.
– Sim, sim. Eu pratico muito comércio com este país e estou quase sempre aqui. É assim mesmo.
O último que falou de si, foi um pouco mais logo:
–
Quando chegamos ao edifício onde nos devíamos alojar, vimos que os
elevadores se tinham transformado em residências duma família que vinha
duma das províncias do norte do país. As escadas se tinham tornado umas
autênticas pistas de corridas de ratos e gatos. Enquanto nós subíamos,
os ratos e gatos desciam para nos ceder lugar para dormir. Eles são
muito gentis.
Eis a vez do porta-voz do Ministério da Produção de Lixo (MIPROLI) que intervém:
–
Bem, estou muito agradecido pela presença de todos. É com muita alegria
que descobrimos que vocês apresentam os mesmas dificuldades que nós.
Realmente sem matéria-prima nada se pode produzir. Mas, já temos muitos
parceiros que colaboram connosco e já conseguimos importar diariamente
quase tudo, sobretudo viaturas de fraca duração.
–
Portanto, como puderam ver aquando da vossa aterragem, dentre várias
outras, muitos carros avariados e enferrujados sobre os passeios de toda
a cidade, elevadores avariados, sucata de linha férrea, etc. Tudo isso é
matéria-prima made in Maputo para a exportação. O
lixo plástico e outras substâncias mal cheirosas ainda em processo de
fermentação são exactamente para o consumo local. Isto é, vocês fornecem
matérias-primas, nós fazemos a sua transformação e exportamos para os vossos
países.
– Mas como é que fazem isso?
–
Nós importamos dos vossos países carros que vocês já não querem e já
bem usados, contentores de lixo metálicos, para serem transformados
pelos moçambicanos, em matéria-prima para a exportação. O que não der
para exportar, fica para abastecer os retalhistas da lixeira de Hulene.
Assim abastecemos os vossos países e por sua vez os vossos países
abastecem-nos. Isso chama-se cooperação multilateral.
Aplausos infinitos pelo empreendedorismo desenvolvido na grande cidade capital do nosso país.
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