sábado, 2 de março de 2013

Solução para problemática do lixo em Maputo

A conferência começaria dois dias depois. Penso que seria numa segunda-feira e exactamente naquela grande cidade capital daquele país da África Austral. Estavam lá representantes de vários países bem desenvolvidos e tinham como objectivo traçar novas estratégias de cooperação entre os países ricos e pobres.
No início da conferência, cedeu-se um minuto consagrado a conversa sobre a viagem de cada um dos representantes e comentários sobre o acolhimento desde o aeroporto até aos vigésimos andares dos prédios onde estavam alojados. Lá mesmo onde tiveram que trepar pelas escadas pois os elevadores já não existiam. Já tinham sido exportados para em seguida serem reimportados, já não como elevadores para os prédios mas como elevadores que circulam na fina rede rodoviária do país.

Cada cidadão estrangeiro que tinha entrado no país e naquela cidade não desperdiçou o primeiro minuto para retratar com maior entusiasmo as maravilhas que tinha visto. Tinham apreciado tudo o que se encontrava na rua com tanta cobiça.

– Esse país é muito rico hein… – Dizia um deles abanando a cabeça de frente para atrás batendo no seu peito com o queixo.

– Eles têm aqui muita coisa que não existe no nosso país… – dizia o outro e os outros iam seguindo.

– É mesmo, quando eu voltar para o meu país, vou dar o relatório ao meu chefe para ver se importo toda essa riqueza.

– Mas como conseguem eles produzir aquilo que vimos? Questionava o outro segurando o queixo com o indicador e o polegar da mão direita.

– Tu não sabes? Eles têm em todas as casas indústrias que usam tecnologias de ponta e de fácil maneio. Até as crianças manejam-nas e produzem esse lixo luxuoso com facilidade.



– Vi uma garrafa de gás que caía daquele prédio. Dizia um outro apontando com o indicador da mão esquerda.

– Não era uma garrafa de gás, era um barril de cerveja vazio. Havia uma festa no terraço daquele prédio. Aqui é assim.

– E aquilo que voava seriam pássaros saindo pela varanda do décimo segundo andar por causa do fumo?

– Não. Eram plásticos pretos que constituem embalagens quando se fazem compras nos mercados e o fumo era produzido pela senhora que veio ontem do distrito com muita lenha para a cozinha.

– Então, tu já percebes um pouco do funcionamento deste país? Perguntou o outro.

– Sim, sim. Eu pratico muito comércio com este país e estou quase sempre aqui. É assim mesmo.

O último que falou de si, foi um pouco mais logo:

– Quando chegamos ao edifício onde nos devíamos alojar, vimos que os elevadores se tinham transformado em residências duma família que vinha duma das províncias do norte do país. As escadas se tinham tornado umas autênticas pistas de corridas de ratos e gatos. Enquanto nós subíamos, os ratos e gatos desciam para nos ceder lugar para dormir. Eles são muito gentis.

No segundo minuto da conferência, cada país devia explicar como fazia para se desenvolver social e economicamente. Todos eles explicaram que careciam de matéria-prima para o fabrico de vários bens, utensílios, viaturas, materiais e instrumentos de construção, etc.

Eis a vez do porta-voz do Ministério da Produção de Lixo (MIPROLI) que intervém:

– Bem, estou muito agradecido pela presença de todos. É com muita alegria que descobrimos que vocês apresentam os mesmas dificuldades que nós. Realmente sem matéria-prima nada se pode produzir. Mas, já temos muitos parceiros que colaboram connosco e já conseguimos importar diariamente quase tudo, sobretudo viaturas de fraca duração.

– Mas, Senhor porta-voz, desculpe cortar-lhe a palavra. Que é que se produz nesta cidade capital?

– Portanto, como puderam ver aquando da vossa aterragem, dentre várias outras, muitos carros avariados e enferrujados sobre os passeios de toda a cidade, elevadores avariados, sucata de linha férrea, etc. Tudo isso é matéria-prima made in Maputo para a exportação.  O lixo plástico e outras substâncias mal cheirosas ainda em processo de fermentação são exactamente para o consumo local. Isto é, vocês fornecem matérias-primas, nós fazemos a sua transformação e exportamos para os vossos países.

– Mas como é que fazem isso?

– Nós importamos dos vossos países carros que vocês já não querem e já bem usados, contentores de lixo metálicos, para serem transformados pelos moçambicanos, em matéria-prima para a exportação. O que não der para exportar, fica para abastecer os retalhistas da lixeira de Hulene. Assim abastecemos os vossos países e por sua vez os vossos países abastecem-nos. Isso chama-se cooperação multilateral.

Aplausos infinitos pelo empreendedorismo desenvolvido na grande cidade capital do nosso país.

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