Não precisa consultar os outros que entram depois em cada paragem. É só mandar descer os que reclamarem e levar os outros. O tempo de partida e de chegada ao destino depende também dos dois primeiros. Ninguém deve estar com pressa e ninguém tem o direito de reclamar o que quer que seja lá dentro. Ou lá fora quando o chapa estiver em andamento.
- Senhor, não me pisa.
- Haaaaa… você não vês que isso aqui é chapa?
- E depois, se é chapa é preciso me pisar os sapatos que acabo de comprar?
- Senhora, se não queres ser pisado, compra o teu carro.
–
Paragem. Vou descer na próxima paragem, cobrador. – dizia uma senhora
gritando em silêncio em relação ao barulho provocado pelo estrondo
permanente da música.
Vendo que o chapa já tinha passado duas paragens sem parar:
– Alguém está a dizer paragem. – Gritou um senhor com um tom de voz que acompanhava o ritmo da música.
– Paragem a seguir, seu mestre. – gritou o cobrador batendo fortemente na porta do carro.
O motorista accionou os freios.
–
Você cobrador, eu disse paragem há muito tempo. Porquê não paraste ali?
Não vou pagar porque tenho que subir outro chapa para voltar. – dizia a
senhora furiosa.
–
Esse chapa não é da tua casa, ouviste senhora? Se não quereres mais
subir esse carro é melhor dizeres mas tens que pagar aqui. Eu perguntei
se alguém ia descer você não disseste nada. Agora que chegaste onde ias
tens boca hein…
A
senhora pagou o devido valor e dirigiu-se rumo à outra paragem de volta
e o cobrador arrancou o chapa dizendo – A paragem a seguir não vou
parar porque não é paragem e tem polícia ali.
– Senhor, é para eu fazer o quê? O cem conto que vou dar ao polícia é mais que o cinco conto que você vais pagar.
Estava naquele momento na dita paragem uma pessoa balanceando o braço como sinal de querer viajar.
–
Leva esse, seu mestre. – gritou o cobrador acrescentando – Você que
querias descer, vamos fazer jogo rápido ai. Desce para subir o outro.
Quando
o chapa parou naquele lugar impróprio, vinha um camião cavalo carregado
de lingotes dum metal muito pesado. O camião passou por cima da
latinha.
Minutos
depois, a latinha foi recolhida, sem se ter extraído o seu conteúdo,
para uma das lixeiras usadas pela polícia daquela cidade. Foi lá que
apanhei a latinha da marca ‘‘Ten years’’ e descobri logo que havia neste
país conservas de carne humana.
Um dos leitores deste texto perguntou-me:
– As pessoas estavam ensardinhadas?
– Não eram sardinhas. Eram pessoas que estavam ''empessoadas''.
Sem comentários:
Enviar um comentário