domingo, 31 de março de 2013

Beber álcool para aliviar o ‘‘stress’’?



É assim que mais dias menos dias os stress e o álcool vão tirando muita coisa das pessoas e tiram também as pessoas deste mundo para o outro.
Recebi repetidas vezes umas mensagens em sms no meu celular, dizendo que o álcool era um excelente detergente de limpeza nos seres humanos, pois ele tira a vergonha, a cultura, limpa os bolsos, etc. Eu acrescento algo que não é criação minha, os Mídias já divulgam essa informação em painéis de publicidade na rua e em vários outros meios: - O álcool tira vidas! O álcool não é bom para a saúde! E mais… Para além dos sms’s, numa das minhas caminhadas pela cidade de Maputo, pude ler algo estampado numa camisete dum jovem: ‘‘O álcool mata lentamente!’’ e para contradizer essa mensagem, na parte traseira da camisete estava escrito: ‘‘Que se lixe, nós não temos pressa!’’ Trata-se nesse caso duma chamada de atenção ou duma publicidade para exaltar o consumo do álcool, sobretudo pela camada juvenil? Que contradição! Quem produziu este tipo de discurso e com que finalidades? Nunca se tinham questionado, não?
Pelo que vejo, em primeiro lugar é que os fabricantes do álcool não se responsabilizam pela forma de como o seu produto é consumido (o que é normal, o consumidor é que deve ser responsável). Os seus objectivos são meramente económico-financeiros e dispensam o conhecimento ou interesse pela pessoa humana do consumidor, que o incitam a consumir cada vez mais através das publicidades sobre o álcool.
Nunca pararam para pensar quantas garrafas de cerveja são produzidas por minuto e quantas são consumidas no mesmo minuto. Olhem que só mencionei a cerveja, mas devia ser as cervejas porque há várias. E as outras bebidas alcoólicas, com marcas cada vez mais estranhas? Já pararam para pensar no significado das palavras: Travel, Safari, Paradise, Tentação, Double Punch, El Salvador, Teimoso, Boss, Dom Barril, Vida, Casa Mor, etc, como marcas de bebidas? Eu já fiz as minhas viagens por cada uma destas palavras e encontrei significados que não vou aqui partilhar. Quero que cada um dos leitores faça o mesmo exercício e deixe o seu comentário.
Será que o consumo que fazemos do álcool, corresponde necessariamente às nossas necessidades de alívio do stress e de promoção da alegria em festas, cerimónias, convívios com amigos, etc? Ou ainda o suicídio? Se o suicídio for uma das nossas necessidades ou objectivos, os resultados são inquestionáveis, pois conseguimos fazê-lo facilmente e eficientemente!
Não é apenas da responsabilidade do Governo a criação de políticas que visam a redução ou o desenvolvimento da cultura do consumo moderado dessas bebidas. Cabe também a cada um de nós colaborar, tentando não agir contra a sua própria saúde pelo consumo excessivamente desmoderado do álcool.
Mesmo reconhecendo a imprecisão da expressão: Bebam com moderação! Não a descarto num momento em que constato que ela possa servir para salvar as nossas vidas.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Durkeimizando a sociedade

É interessante ver a forma de como nós fazemos a reprodução das coisas sem questionar como elas foram concebidas ou criadas e em que contextos. Vocês já pararam para pensar sobre por que razão precisamos saudar as pessoas, estudar, trabalhar, nos casar, ter filhos, ter amigos, etc?
Lembro-me duma anedota que passou e eu ouvi na rádio nos anos 90 do século passado:
Trata-se dum homem mudo que se encontrava numa paragem de autocarros. Não tendo certeza se aquela era a paragem dos autocarros que o levariam ao seu destino, dirigiu-se a um outro homem que se encontrava na mesma paragem e perguntou-lhe usando gestos. Após a resposta afirmativa, puseram-se a conversar, sempre gesticulando.
Minutos depois, aparece um outros e entra na conversa também usando gestos, mas sem saber quem era o mudo dentre os dois.
De repente o mudo apanha o seu autocarro e vai-se embora. Os dois homens continuaram com a conversa usando gestos durante muito tempo e finalmente despediram-se. Mas, os encontros tornaram-se muito frequentes e eles conversavam durante muitas horas, usando gestos.
Eis que um dia um dos conhecidos de um deles observa a nova amizade que se tinha solidificado e  diz em grita: - Oh, João! Gostas muito do teu amigo mudo, hein!!! E os dois respondem ao mesmo tempo e apontando-se o dedo um ao outro: - O mudo é ele.
Lembrei-me desta anedota quando vi dois indivíduos conversando com gestos hoje, na baixa da cidade de Maputo. As minhas observações não me permitiram distinguir quem era o mudo e passei. Mas, a questão ainda me incomoda: ‘‘Quem era o mudo entre eles?’’ Será que os dois eram mudos?’’ ou ainda ‘‘Será que havia algum mudo entre eles?’’.
Reconheço que na minha sociedade considera-se que aquele que usa gestos, não acompanhados da expressão oral articulada, para a comunicação, apresenta uma anomalia denominada mutismo. É através desta categorização que nós vamos distinguir o mudo dentre as outras pessoas que apresentem outros tipos de anomalia.
Contudo, a possibilidade existente de aparecerem indivíduos que apresentem, à primeira vista, as características anteriormente referidas, não me permitem deduzir que estou em presença de um mudo conversando com um outro não mudo e nem de sois mudos conversando.
Para se poder apurar a verdade sobre o que observo, devo reproduzir as ideias que obtive da minha sociedade e aproximar-me do objecto e abrir bem os olhos para observá-lo, não? Eis que Durkheim aparece, num dia de sol, e diz-me que devo ter cuidado pois a observação não se faz de qualquer maneira. Há regras de observação, sendo a primeira a que considera que devemos observar os factos sociais como coisas. Concordei com ele, pois entendi que o que ele estava a dizer não é que os factos sociais eram coisas, mas que devem ser tratados como coisas e que devo colocar-me distante dessas coisas para poder observá-los com exterioridade. Entendi, assim, que a distancia de afastamento de que este sociólogo fala não é sinónimo de distancia física, mas metodológica.
Esse sociólogo é ‘‘maluco’’, sabem? Eu até pensei que ele estivesse a começar a ficar embriagado porque ele estava a tomar umas cervejas.
Meia hora depois dele ter bebido mais duas, ele afirmou que a consideração dos factos sociais como coisas não era suficiente para garantir a objectividade. Era necessário nos afastarmos das pré-noções. Mas, o que é isso de pré-noções? É para eu fazer de contas que esqueci aquilo que já tinha aprendo com a minha mãe ou os meus amigos e colegas de escola? Mas, como é que é possível eu afastar-me daquilo que eu já sei. Não é possível ‘‘des-saber’’ o que eu aprendi e sei. A resposta que ele me deu, foi de que devemos controlar os nossos conhecimento anteriores, para que não interfiram no objecto que pretendemos analisar. Assim, não correremos o risco de fazer repetições daquilo que todo o mundo diz e ‘‘re-diz’’ que sabe. Entendi e a conversa estava a animar.
Algum tempo de pois apareceu a mulher dele e queria levá-lo para casa, mas eu pedi para que ele ficasse mais um tempinho, pois eu queria pagar-lhe mais duas. Ela aceitou porque eu tinha prometido acompanhá-lo até casa mais tarde. E fiz isso com muito prazer. Quem não gostaria de andar ao lado dum mestre para ter benefícios do conhecimento científico ou outros privilégios? A esposa dele foi embora e ele agradeceu-me por ter feito muito bem o meu papel. Afinal ele é que me tinha pedido para dizer a mulher que eu pagaria as duas cervejas, mas na verdade o dinheiro era dele. Pagou as duas que e continuamos com a conversa.
Quando a cerveja foi subindo mais um pouco, ouvi o sociólogo a dizer que devemos procurar definir as coisas de que queremos falar. Delimitar um campo em que as coisas que pretendemos estudar apresentem as mesmas características. Assim, entendi que Durkheim queria dizer em outras palavras que, se eu quiser estudar cães, devo defini-los; Se eu quiser estudar gatos, devo defini-los; Se eu quiser estudar  o casamento, devo defini-lo; Se eu quiser estudar o suicídio (como ele o fez), devo defini-lo também e assim sucessivamente.
Quando eram duas horas de madrugada, levei Durkheim para casa e deixei-o sentado na cadeira, com a cabeça sobre a mesa. Tendo voltado para lá no dia seguinte, a mulher se tinha suicidado. Mas, antes tinha deixado uma carta que dizia: Suicidei-me porque o meu marido saiu e entrou numa biblioteca e disseram-me que de lá ele nunca sairia. Mas, esse não era o maior problema. O pior é saber que ele está lá naquele lugar, mas os estudantes de sociologia parece não terem gosto pela aprendizagem do que meu marido ensina. Deveriam aprender a valorizar esse ‘‘velho’’ da ciência sociológica.

sábado, 2 de março de 2013

Os cobradores de ''chapa'' em Maputo

Essas latas têm uma particularidade. São ambulantes. Movem-se no espaço e no tempo. Mas não respeitam muito o espaço nem o tempo. Nunca enchem pois os ingredientes principais da conserva são passageiros, que se vão substituindo um ao outro subindo e descendo. Os seus movimentos podem mudar de direcção e sentido a qualquer momento, desde que os dois primeiros humanos que nela entram na aurora e a abandonam quando o sol mostra as suas costas, que não iluminam a terra, tomem decisão.                                          

Não precisa consultar os outros que entram depois em cada paragem. É só mandar descer os que reclamarem e levar os outros. O tempo de partida e de chegada ao destino depende também dos dois primeiros. Ninguém deve estar com pressa e ninguém tem o direito de reclamar o que quer que seja lá dentro. Ou lá fora quando o chapa estiver em andamento.

- Senhor, não me pisa.                                          

- Haaaaa… você não vês que isso aqui é chapa?

- E depois, se é chapa é preciso me pisar os sapatos que acabo de comprar?

- Senhora, se não queres ser pisado, compra o teu carro.

Mais uma evidência: Essas latas ambulantes realizam os seus movimentos a alta velocidade e com música ao som de estoirar os tímpanos. O cobrador sempre com a cabeça fora, grita o destino do chapa como se isso não estivesse escrito no vidro para-brisas do autocarro.

– Paragem. Vou descer na próxima paragem, cobrador. – dizia uma senhora gritando em silêncio em relação ao barulho provocado pelo estrondo permanente da música.

Vendo que o chapa já tinha passado duas paragens sem parar:

– Alguém está a dizer paragem. – Gritou um senhor com um tom de voz que acompanhava o ritmo da música.

– Paragem a seguir, seu mestre. – gritou o cobrador batendo fortemente na porta do carro.

O motorista accionou os freios.

– Você cobrador, eu disse paragem há muito tempo. Porquê não paraste ali? Não vou pagar porque tenho que subir outro chapa para voltar. – dizia a senhora furiosa.

– Esse chapa não é da tua casa, ouviste senhora? Se não quereres mais subir esse carro é melhor dizeres mas tens que pagar aqui. Eu perguntei se alguém ia descer você não disseste nada. Agora que chegaste onde ias tens boca hein…

A senhora pagou o devido valor e dirigiu-se rumo à outra paragem de volta e o cobrador arrancou o chapa dizendo – A paragem a seguir não vou parar porque não é paragem e tem polícia ali.

– Chiiii, cobrador, eu quero descer porque normalmente vocês param ali quando for para carregar. Agora que é para descer não aceitas…

– Senhor, é para eu fazer o quê? O cem conto que vou dar ao polícia é mais que o cinco conto que você vais pagar.

Estava naquele momento na dita paragem uma pessoa balanceando o braço como sinal de querer viajar.

– Leva esse, seu mestre. – gritou o cobrador acrescentando – Você que querias descer, vamos fazer jogo rápido ai. Desce para subir o outro.

Quando o chapa parou naquele lugar impróprio, vinha um camião cavalo carregado de lingotes dum metal muito pesado. O camião passou por cima da latinha.

Minutos depois, a latinha foi recolhida, sem se ter extraído o seu conteúdo, para uma das lixeiras usadas pela polícia daquela cidade. Foi lá que apanhei a latinha da marca ‘‘Ten years’’ e descobri logo que havia neste país conservas de carne humana.

Um dos leitores deste texto perguntou-me:

– As pessoas estavam ensardinhadas?

– Não eram sardinhas. Eram pessoas que estavam ''empessoadas''.   

Solução para problemática do lixo em Maputo

A conferência começaria dois dias depois. Penso que seria numa segunda-feira e exactamente naquela grande cidade capital daquele país da África Austral. Estavam lá representantes de vários países bem desenvolvidos e tinham como objectivo traçar novas estratégias de cooperação entre os países ricos e pobres.
No início da conferência, cedeu-se um minuto consagrado a conversa sobre a viagem de cada um dos representantes e comentários sobre o acolhimento desde o aeroporto até aos vigésimos andares dos prédios onde estavam alojados. Lá mesmo onde tiveram que trepar pelas escadas pois os elevadores já não existiam. Já tinham sido exportados para em seguida serem reimportados, já não como elevadores para os prédios mas como elevadores que circulam na fina rede rodoviária do país.

Cada cidadão estrangeiro que tinha entrado no país e naquela cidade não desperdiçou o primeiro minuto para retratar com maior entusiasmo as maravilhas que tinha visto. Tinham apreciado tudo o que se encontrava na rua com tanta cobiça.

– Esse país é muito rico hein… – Dizia um deles abanando a cabeça de frente para atrás batendo no seu peito com o queixo.

– Eles têm aqui muita coisa que não existe no nosso país… – dizia o outro e os outros iam seguindo.

– É mesmo, quando eu voltar para o meu país, vou dar o relatório ao meu chefe para ver se importo toda essa riqueza.

– Mas como conseguem eles produzir aquilo que vimos? Questionava o outro segurando o queixo com o indicador e o polegar da mão direita.

– Tu não sabes? Eles têm em todas as casas indústrias que usam tecnologias de ponta e de fácil maneio. Até as crianças manejam-nas e produzem esse lixo luxuoso com facilidade.



– Vi uma garrafa de gás que caía daquele prédio. Dizia um outro apontando com o indicador da mão esquerda.

– Não era uma garrafa de gás, era um barril de cerveja vazio. Havia uma festa no terraço daquele prédio. Aqui é assim.

– E aquilo que voava seriam pássaros saindo pela varanda do décimo segundo andar por causa do fumo?

– Não. Eram plásticos pretos que constituem embalagens quando se fazem compras nos mercados e o fumo era produzido pela senhora que veio ontem do distrito com muita lenha para a cozinha.

– Então, tu já percebes um pouco do funcionamento deste país? Perguntou o outro.

– Sim, sim. Eu pratico muito comércio com este país e estou quase sempre aqui. É assim mesmo.

O último que falou de si, foi um pouco mais logo:

– Quando chegamos ao edifício onde nos devíamos alojar, vimos que os elevadores se tinham transformado em residências duma família que vinha duma das províncias do norte do país. As escadas se tinham tornado umas autênticas pistas de corridas de ratos e gatos. Enquanto nós subíamos, os ratos e gatos desciam para nos ceder lugar para dormir. Eles são muito gentis.

No segundo minuto da conferência, cada país devia explicar como fazia para se desenvolver social e economicamente. Todos eles explicaram que careciam de matéria-prima para o fabrico de vários bens, utensílios, viaturas, materiais e instrumentos de construção, etc.

Eis a vez do porta-voz do Ministério da Produção de Lixo (MIPROLI) que intervém:

– Bem, estou muito agradecido pela presença de todos. É com muita alegria que descobrimos que vocês apresentam os mesmas dificuldades que nós. Realmente sem matéria-prima nada se pode produzir. Mas, já temos muitos parceiros que colaboram connosco e já conseguimos importar diariamente quase tudo, sobretudo viaturas de fraca duração.

– Mas, Senhor porta-voz, desculpe cortar-lhe a palavra. Que é que se produz nesta cidade capital?

– Portanto, como puderam ver aquando da vossa aterragem, dentre várias outras, muitos carros avariados e enferrujados sobre os passeios de toda a cidade, elevadores avariados, sucata de linha férrea, etc. Tudo isso é matéria-prima made in Maputo para a exportação.  O lixo plástico e outras substâncias mal cheirosas ainda em processo de fermentação são exactamente para o consumo local. Isto é, vocês fornecem matérias-primas, nós fazemos a sua transformação e exportamos para os vossos países.

– Mas como é que fazem isso?

– Nós importamos dos vossos países carros que vocês já não querem e já bem usados, contentores de lixo metálicos, para serem transformados pelos moçambicanos, em matéria-prima para a exportação. O que não der para exportar, fica para abastecer os retalhistas da lixeira de Hulene. Assim abastecemos os vossos países e por sua vez os vossos países abastecem-nos. Isso chama-se cooperação multilateral.

Aplausos infinitos pelo empreendedorismo desenvolvido na grande cidade capital do nosso país.

Pessoas transportadas como animais em Maputo

Éramos todos moçambicanos quando estávamos sob o domínio colonial e até tentaram fazer-nos portugueses. Lembram-se, não? Continuámos moçambicanos até a fundação da força que libertou nosso país das ‘‘garras’’ dos colonizadores. Ficámos livres (independentes). Uns dedicaram-se ao trabalho social para o desenvolvimento do país e o outro com o mesmo propósito dedicou-se às actividades que visavam um desenvolvimento económico egoísta (com vista ao desenvolvimento individual)
Relativamente aos primeiros, temos a dizer que  fizeram os seus papeis e saíram, deixando-nos sempre como moçambicanos. Eles não nos transformaram em outra coisa. O segundo fez algo excepcional. Pegou em todos os moçambicanos (nós), não sabemos como, transformou-nos primeiro em patos. Criou-nos até atingirmos esses nossos insignificantes tamanhos, que ele ainda tenta reduzir-nos cada vez mais. Não nos deixa crescer, senão constituímos ameaça. Quando tentamos reivindicar alguns dos nossos direitos, eis a sua força equipada da maneira mais sofisticada que  nos vem pulverizar com porrada.


Vejam que é raro, ultimamente, que ele apareça a falar do empreendedorismo relacionado com a criação de patos. Constatámos que, quando ele falava de patos, era para nos levar a praticar uma actividade que neste momento já não dá ou daria rendimento nenhum. Nós agora criamos as referidas aves a acabamos comendo-nos uns aos outros.

O camarada já mudou! Agora ele está a criar um outro tipo de bicho. Passou das aves para os animais de quatro patas. É doloroso saber que nós fomos transformados de patos para bois, não? E até alguns de nós somos burros. O mais estranho é que os referidos burros não funcionam como meios de transporte para ajudar a transportar os bois. O burros e os bois misturam-se na mesma carruagem.



Era melhor no tempo em que éramos patos e não sabíamos que o éramos. Não estamos a dizer que naquele tempo os bois e burros não existiam. Os burros foram quase sempre muitos, mas era sempre possível distinguir os bois. No tempo em que éramos patos não sentíamos muita insegurança e nem precisávamos nos segurarmos uns aos outros durante a viagem por medo de ser jogado fora da carruagem. Mas, podemos dizer também que, pelo menos, nos encontrávamos bem organizados em gaiolas. Agora, ser transportado como bois naqueles camiões, sem as condições mínimas de segurança é muito mas muito lamentável.
Camarada, precisamos que se coloquem meios de transporte que sejam dignos de nos levar para os nossos postos de trabalho e às escolas, com um mínimo de segurança e um pouquinho de conforto. Assim, poderemos, provavelmente, evitar a transformação do que já somos para outra coisa que não sabemos o que será.

Caros compatriotas, se ficarmos de braços cruzados, seremos transportados assim como esses porcos o são. Olhem que já somos comparados a eles, pela grande quantidade e qualidade de lixo que inunda a nossa cidade. Não olhemos para as coisas a funcionarem mal e dizermos: ''O que fazer?'' e terminarmos por ai. Devemos sempre procurar responder a essa pergunta de forma activa. Nós somos capazes de mudar o curso das coisas assim como elas mudam o nosso curso.