Não é hábito meu escutar a rádio nas manhãs! Mas esta manhã sintonizei a
RTP África e fiz a minha viagem para a cidade de Maputo escutando uma
entrevista dada pela famosa cantora portuguesa do fado, Anabela. Para
além de cantora, Anabela é actriz, fazendo teatro musical e novelas.
Esta cantora lançou este ano o seu novo álbum intitulado ‘‘Casa
alegre’’. Trata-se dum álbum que é composto por vários temas com ritmos
diversificados. Dentre os vários temas que compõem o ‘‘Casa alegre’’,
figuram os que a cantora considera que têm um ritmo mais de África. É
esta última ideia que pretendo comentar neste artigo.
Já muitos
séculos passaram e várias ideias sobre a África foram construídas para
responder a certas necessidades do tempo da colonização e algumas
persistem até à actualidade. Os europeus legitimaram, através dum
conjunto de ideologias, a colonização, reforçaram a ideia da necessidade
de civilizar o africano, dividiram os africanos em assimilados e não
assimilados, procuraram provar e provaram que o africano era e é
atrasado por isso precisa da intervenção dos europeus para se
desenvolver, criaram uma África representada por monstruosidades,
aberrações, irracionalidades, obscurantismos, trevas, etc. Tudo o que
existia, acontecia, era feito pelos africanos, desde que fosse diferente
do que existia, acontecia, era feito pelos europeus era categorizado
como negativo.
Marcos SINATE

Porém, a realidade mostrou que era apenas um
conjunto de ideologias sem fundamento prático pois, no meu entender, do
encontro entre os ocidentais e os africanos houve um intercâmbio
sociocultural, político e económico. Os africanos aprenderam dos
europeus e os europeus também aprenderam dos africanos. Esse intercâmbio
permanece nos nossos dias, podendo ser visível nas várias formas como
os indivíduos se alimentam, se vestem, falam, se relacionam entre si, o
tipo de música que tocam e/ou que escutam, etc.
Esses elementos
tornaram-se, a meu ver, mais notáveis durante e a após o encontro entre
os europeus e os africanos. Desse encontro, tornou-se quase claro que a
África é caracterizada por uma diversidade de povos, com organizações
políticas, económicas, sociais e culturais muito diversificadas. Deste
modo, afirmamos que a África não é uma entidade homogénea. Até agora não
sabemos se existe algo que seja comum a todos os africanos. Aqueles que
considerarem que existe em comum o facto de os africanos partilharem o
mesmo espaço geográfico, devem compreender que existem espaços
geograficamente situados no continente africano mas que não pertencem à
África. Do mesmo modo que no mundo das artes musicais, não se possa
considerar que exista um ritmo que seja africano, embora seja produzido
no espaço geográfico em que se situa o continente. Mas também é
importante compreender que um ritmo produzido num país de África pode
ser um ritmo africano, contudo um ritmo africano não significa o ritmo
de um determinado país africano. Por exemplo, um ritmo moçambicano é um
ritmo africano, mas um ritmo africano não é necessariamente um ritmo
moçambicano.
Quando se trata de abordar assuntos que envolvam o
adjectivo africano, ocorre a necessidade de precisar a que parte da
África se refere. Falar da existência de um ritmo mais de África é
afirmar que existe uma transparência consensual do conceito de África.
Está-se a afirmar que quando se fala de um ritmo mais de África, todo o
mundo tem em mente a ideia do referido ritmo. E agora pergunto eu ‘‘Qual
é o ritmo de África? Ou ainda qual é o ritmo de Moçambique?’’
Marcos SINATE
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